sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sexta-feira da Paixão, texto para reflexão




"...A humanidade vê Jesus o Nazareno nascendo e vivendo como um pobre,
ofendido como um fraco, crucificado como um criminoso, e chora-o e
lamenta-o.
E é tudo o que ela faz.
Desde há dezenove séculos, adoram a fraqueza na pessoa de Jesus,
conquanto Jesus fosse um forte.
Mas eles não compreendem o sentido da verdadeira força.
Jesus não viveu como um covarde, nem morreu sofrendo e queixando-se.
Viveu como um revolucionário, e foi crucificado como um rebelde, e
morreu como um herói.
Não era Jesus um pássaro de asas partidas, mas uma tempestade violenta
que quebra, com sua força, todas as asas tortas.
 
Jesus não veio do além do horizonte azul para fazer da dor o símbolo
da vida, mas para fazer da vida o símbolo da verdade e da liberdade.
Jesus não receou seus perseguidores, e não temeu seus inimigos, e não
sofreu nas mãos de seus executores, mas era livre à face de todos,
audacioso para com a injustiça e a tirania: quando via tumores
pútridos, puncionáva-os; quando ouvia o mal falar, impunha-lhe
silêncio; quando encontrava a hipocrisia, esmagava-a.
 
Jesus não desceu ao mundo da luz para destruir as nossas casas e, com
suas pedras construir conventos e eremitérios.
Não veio para tirar os homens fortes de suas ocupações e fazer deles
monges e padres.
Mas veio para insuflar na atmosfera deste mundo uma alma nova e forte
que destrói, até as fundações, os tronos elevados sobre os crânios e
desmantela os palácios erguidos sobre os túmulos, e derruba os ídolos
impostos aos espíritos fracos e humildes.
 
Jesus não veio ensinar os homens a elevar igrejas suntuosas ao lado de
casebres miseráveis e de habitações frias e escuras, mas veio para
fazer do coração do homem um templo, e de sua alma um altar, e de sua
mente um sacerdote.
Eis o que Jesus o Nazareno fez, e eis os princípios que pregou e pelos
quais se deixou crucificar por sua própria vontade.
E se os homens fossem mais penetrantes, celebrariam a data de hoje com
alegria, e risos e canções de vitória e de triunfo.
 
E tu, gigante crucificado, que olhas do alto do Gólgota as caravanas
dos séculos; que ouves o barulho dos povos, que compreendes os sonhos
da eternidade, tu és, sobre tua cruz manchada de sangue, mais
majestoso e mais soberbo que mil reis com mil tronos e mil reinos.
E tu és, entre a agonia e a morte, mais poderoso e mais temível que
mil generais com mil exércitos e mil troféus.
Tu és, na tua melancolia, mais alegre que a primavera com suas flores.
Tu és, nas tuas dores, mais sereno que os anjos em seu paraíso.
Tu és na mão dos carrascos, mais livre que a luz do sol.
A coroa de espinhos em tua cabeça mais formosa e mais augusta que a
coroa de Buhram, e o prego na palma de tua mão é mais imponente que o
cetro de Muchtary.
E as gotas de sangue que correm em teus pés são mais brilhantes que
as jóias de Astarté.
Perdoa, pois, a esses fracos que se lamentam sobre ti, em vez de se
lamentarem sobre si mesmos.
Perdoa-lhes porque não sabem que venceste a morte pela morte, e deste
vida aos que estão nos túmulos."
 
Khalil Gibran, (Tirado do livro Parábolas)

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